Akasha - Capítulo 5
Após Douglas e Dazimok terminarem de recitar o daimoku em frente ao Gohonzon na sala do templo do inseto, a turma se dirigiu até sua nave, carregando os pedaços de carne bovina.
— Ainda faltam 10 minutos pra chegarmos a uma zona de hiperespaço, — Disse Dazimok após o grupo entrar e a nave alcançar as estrelas — vai dar pra eu rezar mais um pouco.
— Por que a gente não ativa o hiperespaço agora mesmo? — Perguntou Ana.
— Eu já tava indo perguntar isso. — Disse Douglas.
O inseto budista limpou suas antenas antes de responder.
— As zonas de hiperespaço são rotas seguras pra se viajar pela Zona Estática, uma área da realidade que existe além do Samsara, o grande conjunto de mundos aonde os seres sencientes estão constantemente reencarnando.
— Por que essa Zona Estática é perigosa? — Douglas quis saber.
Ana percebeu que os outros aliens ficaram bem desconfortáveis com aquela pergunta.
— Os Osfos. — Respondeu Dazimok — Seres que habitam a Zona Estática. São criaturas repulsivas, monstros dedicados à destruição do universo. As zonas de hiperespaço permitem que uma nave possa viajar pela Zona Estática sem chamar a atenção deles.
— Puta merda, que tenso. — Comentou Ana.
— Chegamos na Zona! — Falou Bib, observando a sua própria esfera de pilotagem.
— Ótimo! — Respondeu Dazimok — Ativar hiperespaço!
*
Após mais um tempo percorrendo a zona hiperespacial, a nave submarino chegou a um planeta.
— Este é o planeta Drerun. — Disse Plassan para os humanos — Vamos vender a carne aqui.
Bib e Bob prepararam uma barraquinha e a carregaram para fora da nave, flutuando em seus mini-caiaques metálicos.
No lado de da nave, em Drerun, haviam inúmeras barracas de mercadores vendendo os mais variados produtos, bem como aliens comprando nessas barracas.
Douglas reconheceu seres de todas as espécies da tripulação: Zadkeuns (insetos como Dazimok), gunetaks (gatos humanoides baxinhos como Kadmek), narolets (lagartos não-bípedes de oito patas e oito olhos como Plassan) e joidnits (aliens cinzentos como Bib e Bob).
Mas havia uma quinta espécie que Douglas e Ana ainda não haviam conhecido: Eram uma espécie de pássaros humanoides, do tamanho de seres humanos , e que possuíam braços que lembravam pernas de pássaro.
— Quem são aqueles? — Ana quis saber.
—Aqueles são os toruns de quem a gente tanto fala. — Explicou Bob — Nem todos os toruns são tiranos opressores, a maioria só quer viver suas vidas em paz e também sofre com os abusos do Império.
— Muito fácil pra um joidnit falar isso! — Rebateu Kadmek — Seu povo era privilegiado pelos penosos antes do Império ruir! —
— Somente enquanto fôssemos úteis e submissos. — Lembrou Bib — Seu povo pode ter sofrido mais, mas isso não quer dizer que os outros também não tenham sofrido.
— Se tem alguém privilegiado aqui, esse alguém sou eu. — Admitiu Dazimok — Kadmek, você tem todo o direito de estar revoltado. A raiva que você sente é justa, mas procure não direcioná-la aos seus colegas, está bem?
Kadmek grunhiu.
Entendido.
Ficou um clima tenso.
— Então... — Começou Ana — Pra quê estamos vendendo essa carne?
— Pra conseguir dinheiro pra comprar cristais estáticos, eles são o combustível do motor de hiperespaço — Respondeu Plassan — Como Dazimok é budista ele não pode comercializar Cthugas, então a gente abduz animais exóticos de planetas de fora do Império e vende a carne deles.
— O Império Torun proibiu todo tipo de alimento, forçando os habitantes a consumirem pílulas de nutrição de gosto horrível. O consumo de carne é o que dá as piores punições — Explicou Bib — mas os seres estão dispostos a fazer de tudo por esse prazer proibido.
— Principalmente nós gunetaks — Disse Kadmek — Minha espécie é primariamente carnívora.
— A minha também. — Disse Plassan — Embora a gente prefira invertebrados.
Enquanto os heróis discutiam, vários aliens se amontoavam pra comprar a carne sendo vendida.
— Um de cada vez! — Bradou Plassan — Façam uma fila!
Um a um, cada comprador saiu com um pedaço de carne e ou voltou a fazer outras compras em outras barracas ou já voltou pra sua nave.
Ao observar o ambiente, um indivíduo chamou a atenção de Douglas: Era um torun de postura imponente e que andava com as asas abertas. Ele trajava o que parecia ser um uniforme militar e andava acompanhado por outros toruns também militarizados, portando alguma espécie de rifle ultratecnológico
— Quem é aquele cara? — Perguntou o rapaz, vendo como aquele torun inspecionava as barracas de aliens temerosos e confiscava alguns itens que estavam à venda, com seus guarda-costas contendo os comerciantes que protestavam, violentamente até.
— É um oficial do antigo Império. — Explicou Plassan — Não são incomuns por aqui. Eles chegam, agem como se fossem policiais e não raramente cometem abusos contra os locais. Eles acreditam que agir assim vai legitimar o reinado deles perante os sacerdotes budistas torun quando reunificarem o Império sob sua bandeira.
“Até no espaço existem porcos” pensou Ana, em sentido figurado.
Uma comoção mais intensa logo se formou: O torun oficial confiscou algum objeto de uma venda de um casal de outros toruns. O marido confrontou o oficial e foi rendido pelos soldados.
O torun oficial ficou encarando o torun rendido, apenas ouvindo as palavras hostis que saíam de seu bico. Quando o comerciante parou de bravejar, o torun oficial disse aos seus subordinados:
— Atirem.
Os soldados abriram fogo contra o torun rendido, fazendo sua esposa cair de joelhos no chão e se derramar em lágrimas.
O torun oficial então agarrou a fêmea pelo braço, erguendo-a.
— Você vem pra minha nave. — Disse ele — Vamos ter uma... conversinha.
No entanto, enquanto andavam, o oficial foi atingido por uma garrafa de vidro na cabeça.
Foi Douglas quem jogou.
— Forasteiro maldito! — Bravejou o pássaro — Não se meta em assuntos que não são da sua conta!
— Já passei da idade de ter alguém me dizendo o que fazer! — Respondeu Douglas — E acredito que essas... — Douglas pensou um pouco antes de continuar — pessoas também já estão fartas de gente como você!
— Insolente! Soldados, atirem!
Douglas imediatamente se transformou em Semreh Magnus.
Os tiros de laser sequer arranharam a armadura dourada de Semreh.
Semreh Magnus simplesmente caminhou até os pássaros normalmente, e quando chegou a uma boa distância, estendeu a mão pra lançar uma rajada de vento, derrubando todos os inimigos.
— Eu poderia matar todos vocês agora mesmo — Disse Semreh — E talvez eu devesse. Mas em vez disso, eu quero que vocês vazem daqui e avisem pra todos os mundos desse império caído que um novo Buda surgiu!
Os toruns fugiram voando dali, mas o oficial sacou uma cápsula no meio do vôo e a jogou no chão.
Era um objeto de formato elíptico e brilhava com uma luz dourada.
Poucos segundos após cair, a cápsula se abriu, e de dentro dela saiu mais uma “daquelas” criaturas.
— Cthuga! — Gritaram os comerciantes, que saíram correndo. Alguns carregando seu dinheiro e mercadorias, outros deixando tudo pra trás.
Aquele Cthuga tinha o mesmo aspecto de ser feito com lascas de petróleo seco coladas por magma, mas tirando isso sua aparência era bem diferente daquele que os heróis enfrentaram na Terra: Parecia ser um triceratóps de seis patas, com uma fileira de espinhos se formando em sua coluna dorsal.
— Ah, merda! — Disse Ana, que já foi se transformando em Madre-Ax e correu pra ajudar Semreh Magnus.
Os aliens da equipe correram pra nave, só assim poderiam dar o apoio adequado.
Madre-Ax correu com seu machado e golpeou o monstro em uma de suas patas.
Surpreendentemente, aquilo foi o bastante pra fazer a criatura gigante rugir de dor.
O Cthuga já ia pisar em Madre-Ax com sua pata quando tiros foram disparados: Era a nave submarino ajudando os heróis a encarar aquela fera.
O Cthuga concentrou energia entre os seus três chifres e então disparou contra a nave, que foi atingida.
Cópias da nave surgiram no ar, era Plassan conjurando suas ilusões.
O dinossauro girou a cauda no ar e com isso atingiu várias cópias, desfazendo-as. Semreh lançou uma rajada de vento pra conter o golpe do Cthuga.
Madre-Ax saltou pelo corpo do monstro gigante até chegar ao pescoço, e lá ficou dando machadadas pra tentar decaptar o bicho.
O Cthuga não se deixou abater, aumentando a temperatura de seu corpo.
— Caralho, isso queima! — Disse Madre-Ax, saltando de volta ao chão.
Semreh Magnus começou a disparar bolas de fogo dourado de suas mãos contra o Cthuga. O fogo de Semreh não era quente nem frio, mas ainda assim causava danos ao atingir o inimigo. A nave dos aliens também disparava, dessa vez em menor escala pra conservar energia. Enquanto isso, Madre-Ax corria por entre as pernas do monstro, dando machadadas em suas patas para desequilibrá-lo.
O monstro começou então a disparar pedras incandescentes de seu corpo para todas as direções, conseguindo atingir a neve, Semreh e Madre-Ax.
O escudo da nave foi mais uma vez danificado, mas comparado ao que houve com Semreh e Madre-Ax, isso não foi nada: Ambos foram esmagados pelas pedras.
—Precisamos destruir logo essas pedras antes que eles morram! — Disse Bib, dentro da nave.
— As armas da nave são todas perigosas demais , a gente pode acabar só piorando as coisas! — Falou Bob.
—Eu vou! — Interveio Kadmek — Meu martelo certamente tem a força necessária pra destruir as pedras sem causar danos colaterais!
Mas não foi preciso: A pedra que havia esmagado Semreh foi energizada e explodiu. Felizmente, nenhum fragmento atingiu a nave.
No lugar aonde a pedra havia caído não estava mais Semreh Magnus, e sim Semreh Cocytus.
— Nunca pensei que voltaria a usar essa forma — Disse ele, se levantando.
A forma Cocytus era mais fraca que Magnus, mas possuía a habilidade de energizar as coisas e explodí-las.
O guerreiro preto e roxo então correu pra pedra aonde estava Madre-Ax e a energizou, fazendo-a explodir.
— Você está bem? — Perguntou Semreh enquando ajudava Madre-Ax a se erguer.
— Estou sim. Mas Semreh, essa forma...
— Não se preocupe. — Semreh já foi trocando de volta pra Magnus.
Semreh Magnus decidiu atacar o kaiju o máximo que pôde, voando de todas as direções e dando socos.
O Cthuga tentava de todas as maneiras se livrar de Semreh, mas o herói era como um mosquito inatingível.
Os aliens prepararam mais um raio laser da nave, e Semreh teve uma ideia: Cobriu o submarino voador com seu fogo dourado, o que aumentou e muito a força do laser.
Ao atingir o Cthuga, ele explodiu litros de líquido negro viscoso.
Estava acabado. Semreh e Madre-Ax se destransformaram de volta em Douglas e Ana, enquanto a nave aterrissava.
— Parece que não sobrou ninguém pra nos agradecer — Comentou Douglas — Seria legal um pouco de reconhecimento.
— Ah, desencana. — Respondeu Ana — Você foi muito foda detendo aquele pássaro babaca! Tenho certeza de que todos os aliens que tavam aqui tão comentando sobre você agora!
— Espero que sim.
— Douglas! Ana! — Chamou Dazimok, nas porta da nave — Estamos prontos pra viajar!
Os humanos entraram na nave. A jornada em busca da Buda da Destruição começou.
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