Akasha - Capítulo 6
Em algum lugar além do plano dos mortais (e talvez até dos próprios deuses), há um planeta dourado chamado Carcosa.
Sentado no trono de seu castelo, o Rei Amarelo cuidava de seus assuntos: Várias “janelas” espaço-temporais estavam abertas ao seu redor, ele não tinha dificuldades em dividir sua atenção entre cada uma delas. Em uma, era mostrado um planeta aonde Urgheols haviam acabado de despertar, e a espécie sapiente daquele lugar lutava por sua sobrevivência. Em outra, vampiros prestavam culto a ele. E também havia aquela em que o Rei havia iniciado um novo Jogo Sagrado.
— Com licença, Rei Amarelo. — Disse uma voz feminina interrompendo o Rei.
Era a Torre Verde, que dentro daquele edifício assumira a forma de uma coluna de fogo verde de dois metros de altura.
— Querida irmã! — Animou-se o Rei Amarelo, se erguendo do trono e dissipando as janelas. — Não precisamos de formalidades, pode me chamar pelo meu Verdadeiro Nome!
— Prefiro manter o protocolo. — Respondeu a Torre.
— Pois muito bem. O que veio fazer aqui, o Conselho Púrpura vetou alguma decisão minha?
— Não, na verdade vim pedir permissão para um experimento.
— Oh, é mesmo? — Interessou-se o Rei. — Que tipo?
— O universo do Jogo Sagrado de Douglas e Igor está para colidir com outro. Quero testar umas coisas. — Disse a coluna de fogo.
— Uuuuuh, muito interessante! Certo, tem minha autorização. Ah, eu gostaria de te pedir um favor: Tem como você dar algumas vantagens pro senhor de guerra Onanbu vencer a disputa pela unificação do Império Torun?
— Verei o que posso fazer.
Assim, a Torre Verde se teletransportou de volta para onde veio, deixando o Rei Amarelo sozinho novamente.
*
A nave submarino deixou a zona de hiperespaço, ficando próxima de um planeta.
— Bom, vamos ter que esperar o motor de hiperespaço esfriar antes de prosseguirmos. — Disse Dazimok. — Douglas, quer rezar o daimoku comigo?
— Claro. — Respondeu o rapaz.
— Ei, por que é que a gente não desce nesse planeta aqui perto? — Perguntou Ana, olhando pela janela da nave — Eu queria conhecer as coisas do espaço.
Dazimok já ia responder quando Bob se intrometeu:
— Ei, esse aí não é o planeta Naitlat? Bib, o que você acha de darmos uma passada por lá?
— Até que não é má ideia. Eu já tava mesmo com vontade de interagir mais com outros da nossa espécie.
— Certo. — Disse Dazimok — Podemos pousar lá enquanto o motor de hiperespaço esfria.
*
A área de Naitlat aonde Ana, Bib e Bob estavam era um grande centro comercial. Mas diferente do mercado negro do planeta Drerun, a maioria dos indivíduos ali eram joidnits, a espécie de Bib e Bob, que tanto lembrava os “aliens cinzentos” da ufologia.
— Aqui é o planeta natal da espécie de vocês? — Perguntou Ana, contemplando os objetos vendidos nas lojas.
— Ah, não. — Respondeu Bib, enquanto compravam substâncias que poderiam ser usadas como tempero de comida. — As espécies do Império Torun já haviam se espalhado por vários planetas antes dele se formar. Naitlat é apenas mais um entre os planetas aonde os joidnit são a espécie dominante.
— Ah, que legal! — Disse Ana. A moça então parou pra olhar em volta e disse: — Ei, o que são esses caiaques flutuantes que vocês usam? Percebi que não tem nenhum outro joidnit usando.
— É um equipamento de acessibilidade. — Respondeu Bob — Basicamente uma versão mais avançada das cadeiras de rodas da Terra. Bib e eu estávamos trabalhando na construção da nave quando um pedaço do teto caiu em cima da gente e nos tornou paraplégicos. Nem o martelo de Kadmek foi capaz de nos curar.
— Puxa, eu sinto muito.
— Não esquenta. — Respondeu Bib.
— Então, Bib... — Falou Bob — O que acha de demonstrarmos nossos dotes de culinária e mecânica pra população?
— Vâmo nessa!
E com um aperto no botão de seus caiaques, prateleiras com comida e dispositivos foram abertas.
Os outros joidnits se aproximaram para comprar, maravilhados com os pratos que Bib cozinhou e os aparelhos que Bob construiu.
“Acho que daria pra eu fazer um show também”, pensou Ana. “Pena que o meu equipamento ficou na nave”.
Todos estavam se divertindo muito, principalmente Bob, que amava ter seu talento reconhecido por outras pessoas.
A diversão não durou pra sempre, no entanto: Uma multidão desesperada passou correndo por ele, fugindo de alguma coisa.
— O que houve? — Perguntou Ana, pra uma joidnit que esbarrou nela.
— Dois exércitos de senhores de guerra torun estão lutando! — Respondeu a alien, que voltou a correr.
—Vamos voltar pra nave! — Falou Bib — Douglas e os outros vão poder nos ajudar!
— Não! — Gritou Ana, surpreendendo o extraterrestre. — Eu já passei tempo demais como uma personagem secundária! Porra, eu fui uma das participantes do Jogo Sagrado! Eu vou enfrentar esses pássaros filhos da puta! Eu sou forte o bastante pra isso!
— Está bem, mas nós vamos com você! — Disse Bob.
Foi a vez de Ana se surpreender.
— Mas o que vocês podem fazer?
— Eu construo armas e o Bib entende de venenos.
— Resultado de estudar a química dos ingredientes dos meus pratos. — Explicou o outro alien — Nem todas as espécies comem as mesas coisas.
— Certo. — Respondeu Ana. — Bora lá encher aqueles pássaros otários de porrada.
— Calma — Falou Bob — Vamos observar a luta de longe primeiro. Depois atacamos o exército que vencer.
*
— Cacete! — Espantou-se Bib, observando o campo de batalha com um binóculo.
— O que foi? — Perguntou Ana.
— O exército da direita pertence ao Onanbu, o senhor de guerra que a gente falou quando se encontrou com vocês na Terra!
— Não tem problema. — Comentou Bob — Eles com certeza vão vencer, mas já vão estar muito cansados quando atacarmos.
A espera não durou muito. O exército de Onanbu foi capaz de massacrar os inimigos, e já estava prestes a tomar os sobreviventes como prisioneiros quando uma bomba de fumaça foi lançada entre eles.
— Eles chamaram reforços? — Perguntou um dos toruns, tossindo.
Antes que tivesse uma resposta, a lâmina do machado de Madre-Ax veio certeira em seu pescoço, decapitando-o.
— Quem de vocês é o Onanbu?! Bravejou Madre-Ax — Eu vou acabar com a sua raça, maldito!
Silêncio. Do meio dos soldados, um torun trajando uma armadura de cor diferente da dos demais saiu.
— Onanbu não está aqui. — Disse o pássaro espacial — Eu estou liderando o exército por el...
Antes que completasse, um dardo atingiu seu pescoço.
O torun cambaleou até perder totalmente o equilíbrio. Ao cair no chão, ele começou a tremer e espumar pelo bico, até que enfim se aquietou, morto.
Os outros pássaros, ao invés de fugirem com a morte de seu líder, simplesmente avançaram (os que portavam armas brancas) ou disparavam (quem tinha armas de fogo) contra Madre-Ax.
A heroína deu machadadas em todos que se aproximavam, partindo-os ao meio com golpes certeiros.
Apesar disso, ela ainda era atingida pelos disparos de laser dos toruns portando armas de longo alcance.
“O Semreh me ajudaria muito agora”, pensou ela.
Semreh não estava disponível, mas felizmente Bib e Bob podiam ajudar: Os cinzentos sobrevoavam o campo de batalha, utilizando de suas armas pra ajudar a heroína. Bib disparava dardos envenenados contra os pássaros, enquanto Bob utilizava de uma arma laser acoplada em seu caiaque.
— Eu queria poder usar minhas granadas e lança-mísseis. — Lamentou Bob — Será que a Madre-Ax aguenta ser pega no fogo cruzado?
— Melhor não arriscar. — Respondeu Bib.
Bob ficou emburrado, mas aceitou. Ele então ativou um par de metralhadoras giratórias e começou a disparar em todos os soldados que via pela frente.
— Atirem nos joidnits! — Gritou um dos toruns.
Os toruns começaram a disparar na direção de Bib e Bob, que faziam todo tipo de manobra aérea pra conseguir se esquivar.
Madre-Ax aproveitou pra meter a machadada nos pássaros atiradores, espalhando cabeças, ossos, sangue e vísceras pelo campo de batalha.
Um grupo de toruns munidos de espadas energizadas cercou Madre-Ax e a atacou de todos os lados, mas com um giro de seu machado a heroína fez um corte circular que trucidou os pássaros alienígenas.
— Ah, merda! — Reclamou um soldado torun — Vamos embora, isso não vale a pena!
Então, ele e o resto dos toruns bateram em retirada.
*
— Vocês estão bem?! — Preocupou-se Kadmek.
Ana, Bib e Bob haviam voltado pra nave. A notícia de que haviam enfrentado o exército de Onanbu pegou os tripulantes de surpresa.
— Tamo sim, relaxa. — Respondeu Ana — Mas e aí, a nave tá pronta?
— É claro. — Respondeu Dazimok.
E assim, o submarino espacial partiu em direção à sua próxima parada.
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