Cidade Amarela, capítulo 13

 

    Alexandre: O treinamento está ótimo. As tropas se acostumaram facilmente com utilizar as armaduras massificadas.

    Lúcia: Muito bom.

    Alexandre: Eu gostaria de permissão para renomear essas armaduras produzidas em larga escala. Eu queria continuar sendo o Chevielier.

    Lúcia: Claro, sem problemas.

    Lúcia largou o celular. Deitada em sua cama, ela sentiu uma leveza que há muito tempo não se manifestava em seu corpo: A Kegareshi conseguiu poderio militar e Douglas obteve mais informações pra ajudar a prevenir a catástrofe. Apesar disso, nem tudo eram flores: Seu irmão Marcos continuava desaparecido, e Lúcia também não conseguia deixar de pensar em Ana; a coitada foi simplesmente arrastada pra esse conflito só porque amava o Douglas, sendo que esses sentimentos não são mais recíprocos.

    -Tomara que ela encontre alguém que a faça feliz quando isso tudo acabar.

    Lúcia então tornou seu rosto para o Gohonzon em seu quarto, ao lado do Selo de Bafomé.

    -Acho que já dá pra consultar os deuses proibidos de novo.

    Lúcia pegou seu celular e cortou seu pulso, pingando sangue na tela.

    Os ideogramas do encantamento arquivado na memória de seu smartphone começaram a brilhar e a se alterar, mas a mensagem que apareceu na tela pegou Lúcia de surpresa.

    -É sério isso?


*



    -Pode me falar de novo por que estamos fazendo isso? - Perguntou Douglas, dentro da máquina de ressonância na Kegareshi – A minha ficha ainda não caiu.

    -Meu cérebro também está tendo dificuldade pra processar essa informação – admitiu Lúcia, digitando no computador que operava a máquina -, mas parece que os deuses proibidos querem falar com você.

    -Fico lisonjeado… eu acho. - Douglas realmente não sabia como se sentir com aquilo.

    -Muito bem, feche os olhos e relaxe. -Lúcia continuava digitando – Vou acionar ondas sonoras que te colocarão em estado de transe.


*tec tec tec*


    Os sons começaram a tocar dentro da máquina de ressonância. Realmente, Douglas sentia como se sua consciência estivesse pra sair de seu corpo. Seu corpo se sentia leve mas ao mesmo tempo pesava. O rapaz não conseguia manter as pálpebras abertas mas ao mesmo tempo seu cérebro se acelerava.

    Antes que percebesse, Douglas adormeceu.


*


    Tão rápido quanto dormiu, Douglas acordou.

    Douglas quase teve um mini-infarto ao notar que estava sobre água, mas logo percebeu que não afundava.

    Ao ficar em pé, ele notou que seus passos causavam ondulações, mas tirando isso era como se estivesse pisando em terra firme.

    Resolveu enfiar a mão no “chão”.

    Um frescor muito reconfortante cercou a mão de Douglas. Quando a tirou, ela não estava molhada.

    Olhou em volta: O lugar aonde estava, o que quer que fosse, estava encoberto por uma densa neblina. Douglas não conseguia enxergar nada por mais que tentasse.

    Isto é, até o momento em que ele percebeu algo vindo em sua direção.

    Douglas ergueu a guarda, e já estava prestes a se transformar quando ouviu uma doce e macia voz dizer:

    -Acalme-se, jovem.

    Teria sido difícil pra uma pessoa comum seguir aquele conselho ao ver o que saiu da neblina, mas Douglas já estava acostumado com coisas piores.

    Uma raposa gigante de pelo azul celeste e nove caudas apareceu diante de Douglas.

    Prostrada sobre suas quatro patas, o focinho da raposa batia na altura do rosto de Douglas.

    -Você é um dos “deuses proibidos”? - Perguntou o humano.

    -Isso mesmo, meu bem. Meu nome é Tamamo-no-Mae, mas você pode me chamar de “Tamy-chan” pra encurtar.

    -Bom, muito prazer. - Douglas estendeu a mão para cumprimentá-la, mas logo lembrou que estava falando com um quadrúpede. Constrangido, o rapaz decidiu mudar de assunto:

    -Então… por que você me chamou aqui?

    -Você tem buscado conhecimento para superar essa provação em que se encontra. -A raposa se sentou. - Como você foi tocado pela sabedoria de Buda ao recitar o Nam-Myoho-Renge-Kyo e conversou com o Rei Amarelo em pessoa, nós discutimos entre nós e decidimos que estamos em posição de realizar uma interferência um pouco mais direta.

    -Fico feliz em ouvir isso… eu acho. Que intervenção seria essa?

    -Acho que vai ficar feliz em saber que é possível derrotar Igor no Jogo Sagrado, não é? - Perguntou a Raposa.

    -Sério?! - Douglas se animou, causando ondulações na água – Como?

    -Para começar, eu gostaria de lhe entregar mais uma porção de conhecimento. - Disse Tamy-chan

    -Oh. - Douglas resolveu também se sentar. - O que você tem pra me dizer?

    -Você já foi informado que você e seus amigos são os indivíduos que Igor precisa vencer no Jogo Sagrado, estou certa?

    -Sim.

    -Pois bem. - Tamamo coçou sua cabeça com a pata traseira antes de continuar – O que o Rei Amarelo não te contou é que somente você e Ana foram “escolhidos pelo destino”.

    Tamamo-no-Mae se divertiu com a cara de espanto que Douglas fez, então continuou:

    -É possível que Alexandre também estivesse destinado a ser a terceira peça por causa da proximidade dele com você, mas ele entrou no Jogo antes de ser convocado.

    -Como? - Douglas se aproximou da raposa

    -Graças às consultas que Lúcia realizou conosco, docinho. - Tamy-chan piscou. - Isso abriu uma brecha pra que o destino se altere e você saia como o vitorioso do Jogo Sagrado.

    -Caraca! - Animou-se Douglas, sorrindo como uma criança. Seu corpo foi apoderado por uma forte carga de energia – É muito bom saber disso, mas como isso vai nos ajudar a superar o poder do lado do meu pai?

    -Este poder já será um avanço. - Disse Tamamo, se prostrando sobre suas quatro patas novamente e agitando suas nove caudas.

    Uma esfera de energia se formou no ar, e então se materializou na forma de um objeto metálico, que caiu na água.

    Douglas pegou o tal objeto. Era um medalhão, com a figura de um triângulo transpassado por uma linha horizontal esculpida em relevo.

    -Pra quê isso? - Perguntou o rapaz.

    -Você saberá quando chegar a hora. - Respondeu a deusa proibida – Guarde bem. Ah, mais uma coisa: Quando encontrar Marcos, diga a ele que Shutendoji sente muito, mas irá se reparar.

    -Hein? Como assi…

    Douglas acordou no prédio da Kegareshi, sendo retirado do interior da máquina de ressonância.

    E então, - Falou Lúcia, esperando seu colega na saída da máquina – o que a raposa disse?


***


    Na copa da Kegareshi, Douglas relatou a experiência que teve com a divindade. Antes que Lúcia pudesse fazer qualquer comentário, porém, a campainha tocou.

    -Lá vem. - Disseram Douglas e Lúcia ao mesmo tempo.

    Chegando na porta, a pessoa que os aguardava no lado de fora não era ninguém menos que Maurício.

    -O que você quer? - Perguntou Lúcia com os braços cruzados.

    -Acredito que é do interesse de vocês saber que Igor localizou o covil de Akleos. - Respondeu Maurício, com sua típica afetividade.

    -QUÊ?! - Lúcia e Douglas quase caíram pra trás.

    -Reúnam todas as suas forças, nos encontraremos em breve. - Maurício abriu suas asas e saiu voando.


*

    Douglas, Alexandre e Ana estavam na entrada de uma das áreas abandonadas de Ponta de Faca, acompanhados de um grupo de policiais militares.

    Além dos policiais, os quatro robôs controlados remotamente por Lúcia estavam presentes. Era muito estranho Marcos não estar entre eles.

    -Ah, finalmente chegaram as estrelhinhas. - Comentou Ana aborrecida quando Igor, Maurício e Marie chegaram, certamente teletransportados pelo Rei Amarelo.

    E ainda trouxeram homúnculos”, pensou Douglas, ao ver o pequeno grupo de pessoas sem rosto que os acompanhava.

    -Poupe-me do seu sarcasmo. - Disse Igor, tomando a dianteira daquela multidão. - Vamos andando.


*


    O grupo caminhou por uma área aonde costumava-se operar fábricas até que um grande incêndio fez com que parassem de trabalhar ali. Ninguém nunca descobriu se foi um acidente ou um incêndio criminoso.

    -Ele está perto. - Disse Igor em meio aos escombros – Posso sentir.

    Dito e feito: Do meio de um amontoado de máquinas destroçadas, surgiu aquele que todos procuravam.

    -Rá! Precisaram trazer um exército pra me combater? - Falou a criatura, surpreendendo a todos. - O que foi? Surpresos que eu sei falar? - Akleos assumira uma postura debochada e provocativa, um grande contraste com seu comportamento até então – Vocês achavam que eu fosse só uma besta selvagem como os Hasturs, não é mesmo? - Dessa vez Akleos ficou mais combativo.

    Os “invasores” do território de Akleos hesitaram. Ele de fato sempre agiu como um mero monstro violento, e então de repente começou a falar articuladamente.

    Quem não ficaria surpreso?

    -O que foi? Cadê a pompa dos engomadinhos? - Akleos falava com Igor e Maurício, que estavam visivelmente desconcertados com aquela situação – Não é tão bom quando o monstro não é um de seus lacaios, não é mesmo?

    Aquele jeito afrontoso e articulado sendo expressado por uma fera daquelas ainda estava sendo algo difícil pro cérebro de todos ali processar.

    -Vocês brincam com a vida, manipulando a essência dos seres vivos pra criar formas de vida que não só não pediram pra nascer como ainda são tratados como meros objetos descartáveis! - Akleos apontava seu monstruoso dedo mecânico para Maurício e Igor. O jovem não fazia questão de disfarçar a tristeza em seu semblante, enquanto o homem de meia-idade mantinha o semblante assertivo, mas era possível ver gotas de suor escorrendo pelo seu rosto.

    Ana soltou um risinho.

    -E quem é você pra rir, sua desgraçada?! - A fala de Akleos pegou Ana de surpresa – Mais de uma vez vocês notaram que os Hasturs eram seres sencientes, e o que fizeram? Continuaram matando eles simplesmente, afinal eles são monstros e vocês são os “herois”, não é mesmo?!

    Douglas, Ana e Alexandre ficaram sem chão depois daquela. Matar os Hasturs sempre pareceu a coisa mais óbvia a se fazer; os herois de fato eram apenas peças em um jogo.

    -Os Hasturs são formas de vida como nunca vista antes! - Continuou Akleos – Mas ninguém se interessou em contê-los pacificamente pra estudá-los! Mas tudo bem, já que não é algo da sua área, não é mesmo, irmã? - Akleos apontava para os quatro robôs controlados por Lúcia.

    -QUÊ?! - Todos ficaram surpresos, mas o choque foi obviamente maior pros herois. Ana chegou a perder o equilíbrio.

    -Acho que a gente já devia ter desconfiado. - Disse Douglas, após se recuperar do choque – Marcos sumiu depois daquele encontro com o Rei Amarelo e pouco depois Akleos apareceu. Bem que eu senti que já tinha visto o jeito dele lutar antes.

    Akleos riu. Era uma risada grotesca, gutural, fazendo todos ali tremerem de medo e repulsa.

    Os robôs de Lúcia permaneciam estáticos. Ela também não se comunicava com os herois.

    -É isso mesmo! - Disse o monstro que costumava ser Marcos – Eu me tornei mais uma vítima, assim como as pessoas mortas pelos Hasturs! Me tornei mais uma peça nessa desgraça de “Jogo Sagrado”!

    -Venha conosco. - Alexandre pediu – Nós podemos descobrir uma forma de te curar.

    -VÁ À MERDA! - Gritou Akleos – Agora que é pessoal você se preocupa com a vida da criatura, né?! - Lágrimas de sangue começaram a escorrer dos olhos do monstro.

    Antes que Alexandre tivesse tempo de pensar numa resposta, Akleos partiu pra cima dele com um soco.

    Alexandre conseguiu se esquivar graças aos seus reflexos de soldado, e assim que pôde acionou seu comunicador.

    -Lúcia, aguardo instruções!

    Silêncio.

    Os quatro robôs também estavam completamente imóveis.

    -Compreendo. - Disse Alex, se esquivando mais uma vez. - Tropa, me acompanhe!

    Alexandre acionou seu relógio e se transformou em Chevielier Blanc.

    Os PMs que o acompanham também ganharam relógios parecidos e repetiram o movimento do legionário.

    A transformação deles era semelhante a uma armadura Chevielier, porém menos corpulenta e de armadura negra com visor dourado. Eles foram batizados de “palaisants”.

    Através de uma função instalada na Chevielier Blanc, o soldado era capaz de transmitir ordens para os policiais diretamente em seus visores, dessa forma privando o inimigo de saber quais táticas seriam empregadas.

    Chevielier desferiu um chute contra o rosto de Akleos, que desviou a perna com um soco e então deu outro soco no tórax do cavaleiro branco com seu punho espinhento.

    Chevielier, porém, não havia atacado sozinho: Dois palaisants flanquearam Akleos e o atacaram com facões eletrificados nas partes mecânicas de seu corpo.

    -Isso é realmente muito agoniante.- Comentou Maurício quando Akleos berrou de dor – Ainda bem que a primeira coisa que fiz após lutar contra Chevielier foi remover essa fraqueza dos meus componentes mecânicos.

    Enquanto isso, mais palaisants entraram na luta, sacando suas uzis e disparando nos músculos expostos de Akleos.

    Fibras se espalharam pelo chão daquele complexo industrial em ruínas.

    Akleos urrou mais uma vez, lágrimas de sangue escorriam de seus olhos.

    Enquanto isso, lágrimas normais escorriam dos olhos de Ana. Por que aquilo estava acontecendo com o amigo dela?

    Akleos se jogou em um dos robôs de Lúcia, que continuavam ali parados.

    Quando se ergueu, o monstro havia se fundido com a máquina.

    Com seu braço convertido em metralhadora, Akleos disparou contra o grupo de inimigos.

    Os palaisants se destransformaram imediatamente em policiais ao caírem no chão, mas Chevielier continuava em forma de combate.

    Assim que o cavaleiro branco estava para se levantar, Akleos o derrubou novamente com uma joelhada no rosto.

    Chevielier não sentiu dor, mas seu visor indicava que o espinho metálico no joelho do monstro havia causado um grande dano, chegando a trincar levemente.

    Akleos então usou seu braço convertido em motosserra pra atacar Chevielier mais uma vez, e dessa vez o golpe foi forte o bastante pra destransformá-lo.

    Antes que a fera pudesse fazer mais qualquer outra coisa com Alexandre, ela foi atingida por algo que explodiu em sua cabeça.

    Semreh Cocytus havia arremessado um detrito energizado. Madre-Ax estava a seu lado, com o machado em prontidão.

    Akleos chutou Alexandre pra um canto e avançou contra os outros dois herois.

    Madre-Ax já foi dando uma machadada no monstro, que ergueu sua guarda.

    Mesmo o golpe da lâmina tendo atingido a couraça mecânica de Akleos, ele ainda sentiu dor com o impacto.

    Semreh aproveitou que Akleos estava ocupado com Madre-Ax e socou-o com seu punho energizado, causando uma explosão.

    -Não vou fraquejar dessa vez. - Disse o heroi de roxo e preto, determinado.

    Akleos foi pego de surpresa com aquele golpe. Madre-Ax aproveitou o momento de distração e o derrubou com uma rasteira usando o cabo de seu machado.

    Semreh então chutou Akleos com seu pé energizado, fazendo-o rolar até bater na parede pichada do que costumava ser uma fábrica e de quebra quebrando a conexão de Akleos com sua motosserra.

    Ainda caído, Akleos aproveitou que ainda possuía a metralhadora e disparou contra os dois herois.

    Semreh se colocou entre Madre-Ax e as balas, fazendo-as explodir poucos centímetros antes de tocarem seu corpo.

    Não demorou pra que o peito de Semreh começasse a doer: O cortisol voltou a agir.

    -Nós assumimos daqui. - Disse Igor, se aproximando de seu filho.

    Igor então estalou os dedos, e os cinco homúnculos que o acompanhavam puxaram máscaras sem feições, similares às do Rei Amarelo, de debaixo das suas roupas.

    Ao colocarem as máscaras, os homúnculos também passaram por um processo de transformação: Assim que as máscaras se encaixaram sem seus “rostos”, várias tiras metálicas saíram delas e se enrolaram nos corpos dos hospedeiros, fazendo-os parecerem múmias robóticas.

    -Ah, então vai fazer seus escravos lutarem por você, seu covarde? - Provocou Akleos, arrancando a metralhadora de seu braço – Podem vir, acabo com todos vocês com minha própria força. - E então, após erguer a guarda, acrescentou: - Depois eu também vingarei as mortes deles.

    Os homúnculos atacaram.

    Cada um dos cinco cercou Akleos por um canto. O monstro sabia que não conseguiria enfrentar todos ao mesmo tempo então decidiu priorizar os que seriam a maior pedra no sapato.

    Akleos deu um soco giratório pra acertar os dois homúnculos atrás de si, derrubando-os com um só golpe.

    Ele então saltou contra o homúnculo no centro à sua frente, derrubando-o no chão e soltando uma chuva de socos e cotoveladas.

    Os outros homúnculos se jogaram sobre Akleos, tirando-o de cima de seu companheiro e linchando-o eles próprios, com pontapés nos músculos expostos, mas também pisões capazes de trincar sua couraça.

    Akleos agarrou o tornozelo de um deles, tentando absorver as faixas que o envolviam, mas sem sucesso.

    -Eu também quero “parcipitar”! - Animou-se Marie. A coelha ativou sua armadura metálica e disparou uma enxurrada de mísseis contra Akleos.

    Quando a poeira baixou, somente Akleos restava de pé. Os homúnculos, mesmo com upgrade, foram obliterados.

    -Basta! - Gritou Igor, avançando sobre a menina – Essa porcariazinha já esgotou o resto de paciência que eu tinha!

    Igor deu um tapa tão forte no rosto de Marie que a fez desarmar a couraça e retornar à sua forma de coelha.

    Ver aquilo chocou tanto Semreh que ele imediatamente voltou a ser Douglas.

    Aquela cena causou uma mistura de sensações no cérebro do rapaz: De um lado, aquilo lhe dava um gatilho terrível de quando sofria abusos de seu pai; do outro, Douglas nunca vira seu pai furioso daquele jeito. Igor sempre tentava ser os mais frio possível ao aplicar seus castigos desumanos.

    Douglas caiu de joelhos. Uma pressão enorme se apoderou de sua cabeça, enquanto seu peito sofria com fortes pontadas e sua respiração ofegava.

    Madre-Ax foi direto confortar o amigo, se destransformando de volta em Ana.

    Enquanto isso, Maurício, na forma de grifo branco, partiu pra cima de Igor.

    -VOU ARRANCAR SUA CABEÇA, SEU MALDITO! - berrou o grifo, atacando seu outrora aliado sem qualquer racionalidade.

    Akleos se regojizava com ambas as cenas: Quando não se pode pôr fim ao próprio sofrimento, é reconfortante ver que outros também estão na merda.

    Porém não demorou muito pra que ele se entediasse, já que nenhum lado parecia interessado em lutar com ele.

    Foi aí que ele viu algo brilhando em Douglas e decidiu atacá-lo: Aquele era certamente algum tipo de poder novo, e ele não abriria nenhuma brecha pra que pudesse ser utilizado.

    Mas assim que ele chegou perto de Douglas e Ana, o brilho envolveu todo o corpo do rapaz e liberou uma explosão.

    Ana ficou surpresa ao se dar conta de que apenas Akleos foi atingido, sendo lançado pela energia do estouro.

    Entre Ana e Akleos, lá estava Douglas transformado em Semreh Cocytus novamente.

    Mas havia algo de diferente dessa vez, era possível sentir.

    -Agora eu entendo… - Disse Semreh, encarando o medalhão embutido em sua palma – O medalhão que Tamamo me deu acabou de me ensinar o que fazer.

    -Tamamo?! - Espantou-se Akleos, se levantando – Tamamo-no-Mae?! Você conheceu os deuses proibidos?!

    -Pois é. Aliás, Shutendoji disse que sente muito por não ter podido te ajudar.

    Akleos hesitou.

    Semreh ergueu a guarda e então disse:

    -Marcos, eu vou te libertar desse sofrimento!

    Akleos avançou contra Semreh. -Não preciso da sua pena! -, gritou ele.

    Semreh fez um gesto “empurrando” o ar, fazendo uma explosão acontecer ao redor de Akleos.

    -O que foi isso?! - Ana se espantou.

    -O medalhão que Tamamo-no-Mae me deu me permite controlar o vento. - Explicou Semreh – Se eu combinar com o poder de Semreh Cocytus de transformar as coisas em bombas, fico praticamente invencível.

    Revoltado, Akleos correu até os robôs com que ainda não havia se fundido, absorvendo suas metralhadoras.

    Seis braços com metralhadoras giratórias brotaram das costas de Akleos e dispararam uma saraivada de balas contra Semreh.

    Com mais um gesto, Semreh lançou uma rajada de vento que fez as balas voltarem contra Akleos, sendo que cada uma tinha o impacto de uma bomba ao atingi-lo.

    Semreh então desferiu um tegatana no ar, disparando uma “lâmina” de vento que mais uma vez explodiu ao atingir Akleos.

    Esse último golpe foi o que bastou para pô fim à fera: Quem caiu desacordado no chão não foi Akleos, mas Marcos.

    Todos os herois foram imediatamente teletransportados de volta pra Kegareshi.


*

    -OK, acho que já basta pra vocês dois também. - Disse o Rei Amarelo, se teletransportando entre Igor e Maurício.

    -Pra mim basta mesmo. - Disse Maurício, se transformando de volta em humano – Eu estou fora.

    O Rei virou-se para Igor, que fez uma cara de quem pouco se importava.

    -Tem certeza? - Perguntou o Rei, voltando-se para Maurício – Você está ciente de que assim não terá a sua recompensa por vencer o Jogo Sagrado, não está?

    -Eu não ligo. - Respondeu Maurício, resoluto.

    -Pois muito bem. - Disse o Rei Amarelo – Igor, você está de acordo?

    -Pra mim não faz diferença, não preciso mais da ajuda dele pra criar Hasturs.

    Aquela fala fez Maurício morder os dentes.

    -Então está decidido. - Falou o Rei, estendendo as palmas das mãos para Maurício e Marie - Vocês estão oficialmente fora do Jogo.

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