Cidade Amarela - Capítulo 16 (Final)

 

    Douglas não conseguia dormir.

    Deitado em sua cama, o jovem olhava as notícias pelo celular: Os dois Urgheol haviam se encontrado no Tocantins e começado a se enfrentar.

    Douglas sentia um nó em seu estômago ao ver as imagens do caranguejo e da serpente se atacando enquanto destruíam Palmas.

    A tela do celular indicava 4:47 da manhã, mas a culpa não deixava Douglas pegar no sono: Nas duas vezes em que o time se rendeu e despertou os Urgheol, foi porque seus amigos estavam preocupados com a sua segurança.

    A culpa porém se transformou em revolta quando o rapaz se deparou com a notícia de que oficiais estrangeiros cogitavam a ideia de jogar uma bomba atômica em Palmas pra tentar destruir os Urgheol.

    Douglas imediatamente se levantou e foi pra rua, procurando um bom lugar pra ativar a lanterna cósmica.

    Aqui não é quintal de ninguém”, pensou ele.



*


    Douglas caminhou até uma área abandonada de Ponta de Faca, a mais próxima do prédio da Kegareshi. Ele estava tão obstinado que mal sentiu cansaço.

    Apontou a lanterna pro portal dourado. Conjurou a escada.

    -Agora vai. - Ele disse pra si mesmo enquanto subia.



*


    -Uma virada inesperada! - Comentou o Rei Amarelo. Sua voz irônica ressoava por toda a arena. - Douglas veio lutar sozinho! Mas a regra era de que Igor precisa matar os três adversários que bloqueiam o seu futuro!

    -Não me importo! - Douglas gritou para que o Rei Amarelo pudesse ouvir lá do alto – Ana e Alex só vão me atrapalhar com aquela afeição toda que eles têm por mim! - O peito de Douglas doeu ao dizer aquelas palavras, mas ao mesmo tempo o rapaz se sentiu mais leve quando elas saíram pela sua boca.

    A plateia foi à loucura. Vários sons se misturaram, mas Douglas pôde reconhecer aplausos e gritos de comemoração. De uma maneira sinistra, ele até que se sentiu apreciado.

    Se meus súditos estão animados com isso, então eu aprovo! - Disse o Rei – Daqui em diante, Igor só terá que matar Douglas para se tornar o soberano da Terra!

    Igor entrou na arena.

    -Eu esperava um desafio maior. - Ele disse – Mas é bom você ter se livrado daqueles covardes.

    -Quem é você pra falar mal dos meus amigos, seu bosta? - Douglas retrucou.

    Os dois iniciaram o processo de transformação.

    Frio e calor intensos se misturaram na arena, e quando a temperatura voltou ao normal, Semreh Cocytus e Yarus estavam prontos pra lutar.

    Semreh imediatamente estendeu a palma da mão esquerda pra energizar o ar ao redor de Yarus e causar uma explosão em torno de seu corpo.

    A plateia ficou impressionada.

    -Maldito covarde… - Xingou Yarus, se levantando – Como você ousa?

    -Ué, você não deixa seu oponente sempre atacar primeiro? - Respondeu Semreh, debochado – Só decidi não perder tempo.

    Semreh estendeu seu braço direito para o lado, fazendo com que o vento jogasse Yarus de cara contra a parede lateral da arena. Logo em seguida, Semreh energizou o ar para explodir a área onde Yarus estava mais uma vez.

    Semreh amou aquela sensação, poder tornar o seu pai tão indefeso quanto ele próprio estava ao sofrer aqueles castigos desumanos ao longo da juventude.

    A inversão de papeis o enchia de alegria. No meio daquela brincadeira, porém, Semreh levou um chute no joelho que desequilibrou:

    Os homúnculos também subiram a escada.

    Semreh encarou o Rei Amarelo.

    -Você ativou a lanterna antes de eu mudar as regras. - Explicou o Rei, dando de ombros.

    Semreh conseguiu se esquivar do próximo golpe do homúnculo e teve a revelação de que não apenas homúnculos, mas também lobisomens e Hasturs ouriço-do-mar subiram a escada pra Carcosa.

    -Ah, foda-se! - Bradou Semreh, energizando o ar em volta de cada um daqueles inimigos.

    Logo em seguida, o heroi balançou os braços pra conjurar um tornado contendo todos aqueles inimigos e o lançou contra Yarus.

    Cada monstro que se chocava contra Yarus dentro do turbilhão explodia, causando um dano que o vilão não era capaz de regenerar.

    Os seres da plateia assistiam aquilo com extremo fascínio; até o Rei Amarelo ficou impressionado.

    Quando o vento passou, Yarus ainda conseguia ficar de pé.

    -Pelo menos deu uma amaciada. - Comentou Semreh avançando contra o inimigo.

    Repentinamente, uma forte pontada atravessou o peito de Semreh Cocytus; não só o peito, mas seu estômago e cabeça também doíam como se o heroi estivesse sendo devorado de dentro pra for a por um cardume de piranhas.

    Semreh caiu no chão, se contorcendo com a dor daquele cortisol excessivo.

    Quando parou, era apenas Douglas. Ou melhor: O corpo de Douglas.

    -Douglas está morto, eu posso sentir. - Declarou o Rei Amarelo. - No entando, ele morreu devido às suas próprias limitações, não porque seu adversário o matou. Yarus, esmague a cabeça do corpo de Douglas e a vitória será sua.


*


    Quando Douglas finalmente conseguiu enxergar, não gostou nada do que viu: Uma paisagem desolada, cheia de árvores mortas, lápides e um rio lamacento passando sob uma ponte feita de ossos.

    Olhou pra cima. Douglas viu pequenas esferas luminosas, que definitivamente não eram estrelas, fornecendo luz praquele lugar.

    -No Céu é que eu não estou. - Disse ele, incomodado com o cheiro de carne podre que parecia vir de lugar nenhum.

    -Ele tá ali! - Douglas ouviu uma voz grotesca rugir.

    Quando se virou, o rapaz levou outro choque: Uma dupla de seres monstruosos, semelhantes a ogros, vinha em sua direção.

    Um deles era vermelho e possuía dois pequenos chifres na testa. O outro era azul e possuía um único chifre no centro da sua.

    Ambos vestiam tangas de pele de tigre e empunhavam enormes clavas de ferro com espinhos.

    Douglas tentou se transformar em Semreh, mas o máximo que acontecia eram pequenas labaredas azuis se formarem ao seu redor, e logo se apagavam.

    O jovem imediatamente deu as costas pros ogros e correu.

    -Ei! Volte aqui! - Gritou um deles.

    “Até parece”, pensou Douglas enquanto corria.

    Douglas passou por entre árvores mortas, pisou em poças de lama, escalou montes de ossos.

    Nada disso foi o bastante pra despistar seus perseguidores.

    Douglas tropeçou numa pedra e caiu no chão.

    Foi o bastante pra que os ogros conseguissem apanhá-lo.

    -Espera! - Disse Douglas – Eu sou amigo de um devoto de Shutendoji!

    -E o que a gente tem a ver com isso? - Perguntou o ogro vermelho.

    -Nós não servimos a ele. - Disse o ogro azul.

    Tô fodido”, pensou Douglas enquanto era arrastado pelos braços por cada um dos ogros.

    Douglas sentiu suas pernas se arrastando pelo chão pelo que pareciam ser horas.

    Os ogros também se recusavam a explicar que lugar era aquele e o que aconteceria com Douglas.

    Quando os ogros chegaram a uma grande mesa quadrada de pedra, Douglas foi jogado nela e um campo de força se formou ao seu redor para impedi-lo de escapar.

    Douglas socava a barreira, mas de nada adiantou. De qualquer forma, ele não queria dar satisfação aos ogros, que se divertiam em assisti-lo tentando escapar.

    Depois de um tempo os ogros se ajoelharam em reverência após olharem pra cima.

    Douglas virou o rosto na direção em que os ogros olharam, mas não tinha mais energia pra se assustar: Um homem gigante de asas negras vinha voando em sua direção. Quando pousou, Douglas viu que o homem tinha pernas de pássaro, provavelmente corvo. Sua pele tinha um tom acinzentado e ele trajava um kimono bege: Douglas encarou o rosto barbudo e cabeludo e com um comprido nariz empinado e perguntou:

    -Q-quem é você?s

    O gigante não respondeu.

    Apenas pegou a cúpula com seus pés de corvo e saiu voando.

    Douglas passou o vôo inteiro em silêncio, até que gritou em desespero ao ver qual era seu destino: Ele estava sendo levado até um esqueleto colossal, muito maior que o próprio “homem-corvo”. Seus ossos estavam queimados e longos cabelos lisos brotavam de seu crânio, além de trajar um kimono chamuscado enquanto sentava na posição de lótus.

    -Aqui está ele, Izanami-sama. - Disse o gigante alado, pousando na mão do esqueleto.

    -Ogrigada, Sutoku-kun. -Respondeu o esqueleto com uma voz tenebrosa, porém feminina. - Pode se retirar.

    Sutoku fez uma reverência e saiu voando.

    A barreira ao redor de Douglas se desfez.

    Douglas ficou atônito diante daquela entidade.

    -Você deve estar cheio de perguntas, não é? - Perguntou Izanami, em um tom que poderia ter sido maternal se sua voz não fosse mórbida.

    -O-onde eu estou? - Perguntou Douglas.

    -Aqui é o Yomi. - Respondeu o esqueleto gigante. - Um dos muitos lugares pra onde as pessoas podem ir após a morte material. Você está morto, Douglas.

    -Quê?!

    -Você abusou de um poder que liberava toxinas em seu corpo, esse foi o resultado. -A voz de Izanami parecia conter uma espécie de serenidade.

    -Mas eu não posso morrer ainda! As pessoas precisam de mim lá em cima! Eu preciso vencer o Jogo Sagrado!

    -Mas é claro. - Respondeu a entidade. - Você é importante demais pra deixar o plano material assim de repente. No entanto, os mortos não podem simplesmente voltar à vida sem mais nem menos.

    -O que eu tenho que fazer? - Perguntou Douglas.

    -Você precisa passar por uma provação. - Respondeu Izanami.

    O esqueleto pousou a mão no chão, permitindo que Douglas descesse.

    Douglas estava na margem de um grande rio, tão largo que nem era possível ver a margem oposta.

    -Atravesse esse rio e coma a fruta guardada pela serpente na outra margem. Se fizer isso, poderá voltar ao seu mundo.

    -Mas eu não sei nadar! - Protestou Douglas.

    -Esse rio foi cultivado a partir de todo o ódio e rancor que você acumulou contra o seu pai ao longo dos anos, bem como seu desejo de vingança contra aquele que ajudou a lhe conceber a vida.

    -Aquele desgraçado me torturou a vida toda e eu ainda estou errado em ficar puto com ele?!

    -Isto não é sobre ele, é sobre você. - Respondeu Izanami.

    Douglas bufou.

    -Se eu criei, então posso muito bem cruzá-lo, né? - O rapaz estava aborrecido.

    Douglas tentou se despir, mas as roupas pareciam fazer parte daquele “corpo”.

    Se jogou na água.

    -Aagbvvckrd! - Douglas tentou gritar, mas a água acabou entrando pela sua garganta.

    O contato com a água daquele rio machucou Douglas terrivelmente: Era como se ele tivesse mergulhado em ácido fervendo. Ele ter engolido aquela água tornou tudo pior.

    Quanto mais Douglas se debatia, mais ele afundava, até que chegou ao fundo daquele rio.

    Mesmo com aquela água maldita invadindo seus pulmões pelas narinas, Douglas decidiu seguir em frente, tentando andar como se estivesse em terra firme.

    Eu sou mais forte que essa dor”, Douglas pensou para si, tentando ignorar a sensação de ser queimado e corroído ao mesmo tempo.

    Douglas seguiu em frente, mesmo após ter seu corpo devorado por peixes demoníacos, se regenerando logo em seguida para ser devorado de novo.

    Eu é quem estou fazendo isso comigo?”, ele se perguntou.

    Douglas se lembrou de Alexandre, seu amigo dos tempos de escola, a quem Douglas defendia de ser tratado como ele próprio fora.

    As mordidas pararam.

    Douglas lembrou da faculdade. Por mais que ele detestasse aquele curso, Maurício até que foi um bom amigo na época. Namorar Ana também havia sido muito bom.

    A água perdeu a acidez.

    Douglas continuou andando. Lembrou de Lúcia, que lhe deu um lugar pra morar, e de Marcos, que foi super empático com seus problemas.

    Douglas recebeu tanto amor em sua vida, por que seu pai não o amava também?

    “Eu queria tanto que a minha mãe não tivesse morrido”

    A água esfriou.

    Mais alguns passos e Douglas saiu de dentro do rio, seco. Diante dele estava uma árvore morta com um fruto dourado, guardado por um esqueleto de serpente.

    -Muito bem, minha criança. - A voz de Izanami ecoou – Estou orgulhosa de você. Coma do fruto, a serpente não lhe fará mal.

    Douglas assim o fez.

    Uma sensação maravilhosa de plenitude e bem-estar se apoderou de Douglas, e tudo ao seu redor pareceu se iluminar imediatamente.


*


    Quando o pé de Yarus estava prestes a se chocar com a cabeça de Douglas, o corpo do jovem começou a emitir uma luz dourada e se suspendeu no ar.

    -Mas o quê…? - Estranhou Yarus.

    O Rei Amarelo observava aquilo atento. Os seres da plateia também não tiravam os olhos daquela cena.

    O corpo de Douglas foi envolto por uma armadura corpulenta e dourada com asas brotando de suas costas.

    Douglas voltara dos mortos como Semreh Magnus.

    -NÃO! - Gritou Yarus, indignado – Majestade, isso vai contra as regras!

    -Eu também não estou gostando nem um pouco disso. - Respondeu o Rei Amarelo, em tom grave – Mas Douglas morreu sozinho, ele não foi derrotado. Prossigam com o Jogo.

    Semreh Magnus virou seu rosto para Yarus:

    -Pai, ainda dá tempo de acabar com isso! Se o senhor desistir do Jogo Sagrado, poderemos viver uma vida normal como pai e filho!

    -Nunca! - Bravejou Yarus – Esse é o meu destino! Eu me tornarei o soberano da Terra e ninguém vai me impedir!

    Semreh ficou quieto.

    -Entendo. - Ele então disse – Se é isso que o senhor quer…

    Semreh estendeu a palma da sua mão contra Yarus e diparou uma rajada de fogo dourado contra seu pai.

    Yarus saltou de dentro das chamas em direção a Semreh e o socou pro chão, em seguida caiu em cima do heroi, o pisando com força.

    Ovação veio da plateia.

    -Agora pouco você mal conseguia ficar de pé… - Comentou Semreh, dolorido.

    -Minha fé me fortalece.s – Explicou Yarus.

    Semreh disparou uma bola de fogo contra Yarus.

    O fogo dourado de Semreh Magnus não era quente nem frio, mas ainda assim causava danos.

    Semreh aproveitou que Yarus ficou atordoado com o disparo e se levantou. A forma Magnus era corpulenta demais, Semreh precisava descobrir um jeito novo de lutar.

    Socou Yarus.

    “Pelo menos estou mais forte”, Semreh pensou quando Yarus foi arremessado pelo impacto até bater na parede da arena.

    O heroi então bateu suas asas, disparando uma rajada de penas afiadas contra inimigo, que dessa vez conseguiu esquivar.

    Semreh então se envolveu em fogo dourado e se disparou contra Yarus como um míssil.

    Yarus não só conseguir se esquivar mais uma vez como ainda por cima bateu com um tegatana nas costas do heroi durante a esquiva, destransformando-o imediatamente de volta em Douglas.

    -Vai se render também? - Provocou Yarus, vendo seu filho agonizando com a dor na coluna.

    -Já chega de fugir. - Douglas disse quando conseguiu se levantar – Eu vou pôr um fim nisso!

    Douglas ergueu sua guarda e se transformou em Semreh. Não Semreh Cocytus ou Semreh Magnus, mas o Semreh azul básico.

    Yarus gargalhou.

    -Você acha mesmo que vai conseguir me vencer com essa forma?! Apenas aceite a derrota!

    Semreh conjurou o fogo azul.

    Seu corpo foi envolvido pelo fogo frio, fazendo a temperatura ambiente cair tanto que o Rei Amarelo precisou conjurar várias mini-estrelas pra manter o local aquecido.

    Uma dor mais terrível do que a do próprio rio do submundo se apoderou de todo o corpo de Semreh, como se o próprio Inferno tivesse se mudado para o ponto aonde Semreh estava.

    Ainda assim, ele precisava daquele poder.

    Semreh deu um soco em Yarus, que conseguia prever os movimentos do heroi naquela forma e agarrou o braço de Semreh.

    Semreh, porém, foi mais rápido, e deu um tegatana com o braço livre no braço de Yarus.

    -Você é louco! - Falou Yarus – Com esse nível de força e velocidade seu corpo vai sofrer sérios danos!

    -É só desistir do Jogo que eu paro. -Respondeu Semreh, dando um fortíssimo chute contra as costelas de Yarus, que mesmo conseguindo prever aquele golpe não tinha capacidade de reagir a tempo.

    Socos. Chutes. Joelhadas. Tegatanas.

    Cada golpe que Semreh dava em Yarus também fazia o seu próprio corpo doer, como se cada osso, órgão e músculo estivesse estourando por dentro.

    O esforço de Semreh rendeu frutos, porém, já que logo Yarus caiu destransformado no chão.

    A plateia ficou impressionada.

    -Vamos, acabe com isso. - Disse Igor, se colocando de joelhos – Não vou pedir piedade, e não tenho o menor interesse no seu perdão.

    Semreh desativou o fogo azul e ficou encarando Igor: Não havia medo nem arrependimento nos olhos daquele homem, apenas resignação.

    Com um único golpe, Semreh decapitou Igor.

    -Parece que nossos outros convidados chegaram atrasados pra festa. -Brincou o Rei Amarelo quando Madre-Ax e Chevielier Blanc chegaram à arena.

    Os três herois se destransformaram.

    -Douglas! - Ana quase chorou ao ver o estado em que seu amigo se encontrava: Coberto de hematomas, um braço e uma perna quebrados e uma órbita vazia com um líquido que costumava ser o olho escorrendo.

    O fígado, pâncreas e rins de Douglas também foram destruídos pelo fogo azul, mas disso não tinha como eles saberem.

    -Oh, onde estão meus modos? - Disse o Rei Amarelo, descendo ao nível dos humanos – Permitam-me curar o nosso campeão.

    Em um estalar de dedos, literalmente, Douglas foi completamente curado pelo Rei Amarelo.

    Ana correu pra abraçar o amigo, que permaneceu imóvel.

    -Muito bem, Douglas. - Disse o Rei Amarelo – Você é o vencedor do Jogo Sagrado. O que fará com esse poder?

    -Só quero que tudo volte ao normal. - Respondeu o rapaz, caminhando em direção à saída.

    Alexandre conhecia bem aquela expressão no rosto de Douglas. “Foi a mesma coisa quando matei o primeiro desertor”, o soldado pensou.


*


    Quando Douglas voltou pra Ponta de Faca, acompanhado de Ana e Alexandre, foi recebido por Lúcia, Marcos, Maurício e Marie.

    -Douglas, ainda bem que você está bem! - Disse Lúcia, correndo pra abraçar o amigo.

    -Os noticiários estão mostrando que os Urgheol voltaram a hibernar. - Falou Maurício – Parabéns, Douglas.

    -Obrigado. - Douglas se separou dos seus amigos e caminhou até os fundos de um armazem abandonado.

    -Ele deve estar precisando de um tempo sozinho. - Comentou Lúcia.

    -Por que o domo ainda não se dissipou? - Observou Marcos, olhando pra cima.

    Antes que os outros herois pudessem pensar a respeito, ouviu-se um berro vindo da direção aonde Douglas estava.


*


    O peito de Douglas doía muito com o peso daquela tristeza, como se estivesse sendo devorado por um tigre. Lágrimas escorriam de seus olhos como cachoeiras.

    -POR QUE ELE ERA TÃO CABEÇA-DURA?! - Gritou Douglas no meio de seu choro.

    Os outros herois correram pra onde Douglas estava e encontraram o rapaz sentado em um canto chorando muito.

    -ELE PREFERIU MORRER A ME AMAR! - O jovem berrou.

    Os olhos de todos ali se encheram de lágrimas com a dor de Douglas.

    Ana foi a primeira a tomar a iniciativa de abraçar o amigo. Aquilo fez Douglas se acalmar um pouco.

    Marie foi a próxima. Depois Marcos, Alexandre, Lúcia e Maurício. Todos ali fizeram seu melhor pra que Douglas se sentisse acolhido.

    -É uma cena comovente. - Disse uma voz que ninguém ali queria ouvir mais.

    -O qué que cê ainda tá fazendo aqui? - Bravejou Ana.

    -Oh, só vim resolver um último assunto. - Respondeu o Rei Amarelo.

    O Rei abriu a mão, e de sua palma saíram quatro esfereas luminosas. Duas flutuaram até Maurício e duas para Marcos.

    -Maurício, Marcos. - Disse o Rei – Essas são as almas de seus pais. Achei que seria bom dar a vocês esse último conforto antes de deixar o plano material.

    Os olhos de Maurício e Marcos se encheram de lágrimas com as mensagens de amor e incentivo que receberam de seus falecidos pais.

    -Ei, espera aí! - Disse Douglas quando as almas voaram pra mão do Rei – Eu também quero conversar com a minha mãe!

    -Oh, você já encontrou sua mãe, Douglas Mendes. - Respondeu o Rei, se divertindo com a reação dos ouvintes – E tenho a forte impressão de que vocês ainda se verão muito mais vezes.

    Com essas palavras, o Rei Amarelo desapareceu, dissipando o domo roxo sobre a cidade.

    -Douglas, sempre que você precisar de algo, é só falar. - Disse Lúcia, se levantando – A família Nakajima tem uma dívida eterna com você.

    -Obrigado. - Douglas se levanto logo em seguida – Eu acho que agora vamos ter que ajudar na reconstrução do país; nós também temos nossa parcela de culpa nisso.

    -Alguns mais que outros. - Comentou Marcos, encarando Maurício.

    Douglas riu. Todos se levantaram e começaram a caminhar em direção ao centro da cidades, que aos poucos ia voltando à vida.

    Enquanto Douglas contava aos seus amigos o que aconteceu em Carcosa, o sol, o verdadeiro sol, nascia sobre Ponta de Faca. Sua luz alimentava os ipês, que faziam com que aquela sim fosse a verdadeira Cidade Amarela.

    Fim.

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