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Mostrando postagens de fevereiro, 2023

Cidade Amarela, capítulo 7

     -O Douglas não está. - Disse Lúcia, concentrada em sua pesquisa. Ela estava debruçada sobre vários livros ao passo que seu laptop estava com um artigo acadêmico aberto.      - Ah não, não. - Respondeu Ana. - Eu vim ver você. - Ana corou – D-digo, vim ver se o caderno já foi traduzido.      - Consegui uma versão em português, sim. - Respondeu Lúcia, sem desgrudar os olhos de seu material. - Mas o vocabulário é cheio de metáforas e simbolismo.      - Isso aí é pra tradução? - Ana estava curiosa com aquela livraiada.      - Não. - Lúcia foi curta e grossa. - Eu estou querendo entender os conceitos de um artigo que li recentemente, acredito que será útil. - Ela então teve um insight e se virou para a outra moça. - Ana, você também passou pelo mesmo processo que o Douglas, correto? Se importa de eu analisar sua alma? *      - Quer que eu tire a roupa? - Perguntou Ana, ao lado da máquina de ressonância.      - Não é necessário. - Respondeu Lúcia, preparando o s

Cidade Amarela, capítulo 6

       -E aí, cara. Como você tá? - Perguntou Alexandre ao entrar no quarto do hospital.      -Me sinto um pouco melhor a cada dia. - Faziam nove dias que Douglas estava internado no hospital tomando soro ansiolítico na veia. -Me falaram que vou ter alta hoje.      -Caramba, que ótimo! - O legionário se sentou num banquinho próximo a cama de Douglas. -O que pretende fazer quando sair daqui?      -Nada muito diferente do que já fiz. - Douglas apertou o botão do controle do ar-condicionado para aumentar a temperatura.      -Mas você é teimoso, hein? - O tom de Alex era metade reprimenda e metade brincadeira. - Ainda não entrou na sua cabeça que esse ódio tá te destruindo, literalmente inclusive? Tinha tanto cortisol no seu corpo que você quase pegou diabetes antes daquele formiga do Marcos!      Risadas se misturaram com tosse na boca de Douglas.      -Que outra opção a gente tem, cara? Vamos deixar o meu pai continuar acabando com vidas inocentes, por algum motivo

Cidade Amarela, capítulo 5

       -Encontrou alguma coisa? - Perguntou Douglas, mais uma vez dentro da máquina de ressonância.      -Ah, com certeza. - Respondeu Lúcia, observando a tela do computador. - A meditação fez uma tremenda mudança na sua alma.      -Tinha uma coisa que eu queria saber. - Douglas encarava o teto branco do interior da máquina.      -Eu não sou lésbica.      -Hein? Ah não, não. Eu queria saber como é que você consegue analisar minha alma com um computador.      -Ah sim. - Lúcia digitava enquanto conversava. -Eu acho que já disse antes, minha família possui vínculos com magia negra.      -Eu pensei que vocês fossem budistas.      -Também. É uma coisa que vem desde a Segunda Guerra Mundial.      -Interessante.      -Acabei. - Lúcia apertou a última tecla, ejetando Douglas de dentro da máquina.      -O que tem de diferente? - Perguntou ele ao se aproximar de Lúcia, sem entender as imagens na tela de seu computador.      -Como posso dizer… A sua alma crio

Cidade Amarela, capítulo 4

       “ Amarelo, amarelo ”, pensou Marcos enquanto caminhava de volta pra casa. “ O que custa plantar ipês de outras cores? ”      Marcos tinha ido até a farmácia comprar seus remédios pra depressão e na volta aproveitou pra comprar um pacote de manju em um supermercado próximo. Ele sempre gostou de doces, e se apaixonou por esse bolinho japonês desde que foi adotado pelos Nakajima.      Caminhando e lanchando, ele não podia deixar de notar como a vida parecia relativamente normal apesar dos ataques de Hasturs: As pessoas trabalhavam, iam às compras, andavam na rua. “A economia não pode parar”, dizia o prefeito. A maior mudança foi a Polícia Militar estar mais presente nas ruas, mas eles só faziam rondas.      Marcos passou em frente a uma obra, e de repente o manju perdeu o gosto: Ele ficou se perguntando quantas daquelas pessoas não perderam amigos e parentes praquelas aberrações monstruosas.      Quantas crianças não perderam os pais do mesmo jeito que ele perdeu qua