Akasha - Capítulo 2

 

    Douglas estava mais uma vez na máquina de ressonância de Lúcia, prestes a se reecontrar com os deuses proibidos.

    Lúcia costumava consultá-los pingando seu próprio sangue na tela encantada de seu smartphone, mas às vezes eles próprios tomavam a iniciativa de falar com mortais, no caso o Douglas.

    Quando a máquina fez Douglas alcançar o estado de transe, sua mente foi transportada para outro lugar.

    Era um gramado enorme, que se estendia até o horizonte. O céu era roxo e haviam nuvens de formato bizarro flutuando nele.

    Aquele lugar tinha um cheiro doce, que acariciava as narinas. Esperando por Douglas, lá estavam Tamamo-no-Mae e Sutoku.

    Sim, é verdade. — Disse Sutoku, sentado em posição de lótus e com os braços cruzados. Sutoku era um gigante de pele cinzenta e pernas de corvo, enquanto Tamamo era uma raposa de nove caudas e pelagem azul celeste.

    Essa sua encarnação atual está a um passo de alcançar a iluminação e superar os deuses. — Continuou o gigante.

    Chá? — Ofereceu a raposa, fazendo uma xícara se materializar entre ela e Douglas.

    — Ah… não, obrigado.

    Tamamo-no-Mae transformou a xícara em um pires e começou a beber com a língua.

    Tem a ver com as práticas que a Lúcia me ensinou? — Perguntou Douglas.

    Não, querido. — Respondeu o canídeo azul. — Você já estava marcado pra se tornar um Buda assim que nasceu. O Shijinto foi apenas um empurrão.

    Shijinto era o nome da religião de Lúcia e sua família. Era uma mescla de elementos do Budismo da Soka Gakkai com do Satanismo LaVeyano, além de feitiçaria folclória japonesa.

     Hm… é aquele negócio de bodisatva, então? Douglas se referia aos seres do panteão budista que, segundo a tradição, teriam escolhido o caminho mais longo para se iluminar.

    Isso mesmo. Respondeu Sutoku. Sua mãe sabe melhor dos detalhes, mas você é a reencarnação de um bodisatva de outro planeta. Izanami deve ter nascido na Terra sob a melhor forma para que você nascesse em condições de tornar um Buda.

    E se casou logo com meu pai… Douglas fitou o chão, sua voz estava murcha.

    Os três ficaram em silêncio.

    Não fica assim, Douglas. Tamamo procurou recomeçar a conversa Você…

    Mas antes que tivesse tempo de consolar o amigo, Tamamo-no-Mae foi atingida por um pedaço de pergaminho com símbolos grafados.

    O pergaminho ficou preso no corpo da raposa, que logo desapareceu.

    Sutoku também foi atingido e logo sumiu.

    Douglas olhou na direção de onde vieram aqueles pergaminhos e um choque atravessou sua coluna: Vindo do céu, uma legião de seres de aparência demoníaca marchava em direção a Douglas.

    Eram seres humanoides com variadas quantidades de braços, cabeças e cores de pele. Muitos portavam armas, mas também haviam aqueles que estavam com as mãos nuas.

    O candidato a Buda está sem seus guardiões! Gritou aquele que parecia ser o líder do exército e que teria lançado os pergaminhos Ataquem!

    Todos os demônios aéreos avançaram contra Douglas.

    O que eu faço?” Pensou o rapaz “Não dá pra eu me transformar aqui e nem tem pra onde fugir, porque me parece muito bem que eu vou morrer no mundo acordado se eu morrer aqui.”

    Douglas apenas fechou os olhos, esperando pelo seu fim.

    Mas ainda não havia acabado.

    Uma figura humanoide se colocou entre Douglas e aqueles demônios, interceptando seus golpes. Era um ser semelhante a um daqueles ogros japoneses do Yomi: Sua pele era roxa, ele tinha três chifres na testa, seu cabelo era como uma grande juba de leão e trajava uma armadura de samurai.

    Você é o Shutendoji? Perguntou Douglas.

    Sim. Respondeu o deus em forma de ogro enquanto trocava socos com os demônios invasores. E torça pra esses putos não terem um terceiro pergaminho de banimento!

    Douglas ficou observando Shutendoji lutar. Então aquele era o ser a quem Marcos dedicava sua devoção. Realmente, aquele ogro era uma grande fonte de inspiração para qualquer um que estivesse com medo de avançar.

    Não vai me ajudar não, ô cabaço?! Perguntou Shutendoji, que logo em seguida esmagou as cabeças de dois demônios umas nas outras.

    E por acaso dá pra eu me transformar aqui? Retrucou Douglas, se esquivando de uma flecha.

    É claro que sim! Shutendoji arrancou o braço de um demônio e então o perfurou com a espada que ele segurava. Cê não tá morto!

    Animado com a notícia, Douglas imediatamente se transformou em Semreh Magnus e avançou contra os inimigos.

    Semreh se cobriu com o fogo dourado e girou com o braço extendido como se fosse uma furadeira, perfurando uma fileira de demônios, enquanto seu fogo sem calor ou frio machucava os que estavam próximos.

    Os demônios arqueiros disparavam suas flechas contra o heroi, que rebateu com uma rajada de vento mandando elas de volta para eles.

    Até que não difícil. Comentou Semreh, disparando as penas de suas asas contra mais demônios armados Eles também devem ter achado que eu não conseguiria me transformar.

    Cuidado! Gritou Shutendoji, que saltou contra Semreh, tirando-o do caminho de uma lança jogada em sua direção.

    A batalha continuou pelo que parecia ser uma hora e meia. Semreh se deu conta de que os demônios, embora mais fracos, estavam em número muito maior e poderiam ganhar pelo cansaço.

    Moleque, tive uma ideia! Falou o ogro roxoTaque esse fogo dourado na minha cabeça!

    Mas hein?!

    Só vai!

    Semreh estava fadigado demais pra questionar.

    Assim que a cabeça de Shutendoji foi incendiada pelo fogo dourado, o ogro a arrancou do pescoço e a lançou contra os soldados demoníacos causando uma grande explosão ao atingí-los.

    Semreh foi arremessado pelo impacto da explosão, ao ponto de se destransformar de volta em Douglas ao cair na grama.

    Shutendoji por sua vez manteve-se firme, mesmo sem cabeça.

    A explosão havia matado a maioria dos demônios, sendo que os sobreviventes eram simplesmente devorados pela cabeça voadora do deus ogro, seus dentes afiados atravessando armaduras e dilacerando a carne dos inimigos, derramando sangue na grama e impregnando o ar com cheiro de morte.

    Ao terminar, a cabeça voltou pro pescoço de Shutendoji e se encaixou perfeitamente.

    Você tá bem? Perguntou o deus, ajudando Douglas a se levantar.

    Não muito. O que eram aquelas coisas?

    Demônios a serviço de Mara, o grande inimigo de Buda. Mara sempre esteve de olho em você mas nunca fez nada, já que você estava predestinado a morrer no Jogo Sagrado. Shutendoji tomou um gole da cabaça que carregava em sua cintura. Mas como você sobreviveu, agora ele fará de tudo pra impedir que você se torne um Buda.

    Antes que Douglas pudesse responder, porém, ele acordou dentro da máquina de ressonância. Seu corpo estava completamente mazelado pelas dores e cansaço da batalha no outro plano.

    Você está bem?! Perguntou Lúcia correndo pra ajudar Douglas a sair da máquinaOs leitores indicavam uma atividade extremamente intensa; eu tentei encerrar o processo mas havia alguma força prendendo você naquele mundo!

    Eu estou bem. Respondeu Douglas.

    Então, após refletir um pouco, ele disse:

    Já me decidi. Vou me juntar aos aliens.

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