Akasha - Capítulo 3
No dia seguinte, Douglas se reuniu com seus amigos: Ana, Lúcia, Marcos, Maurício e Marie. Eles estavam em frente a nave-submarino de Dazimok, que aguardava o rapaz humano.
A nave estava “estacionada” na área aonde ocorreu a luta contra a ema gigante.
O governo havia interditado a área, então somente os membros da Kegareshi tinham acesso a ela.
— Tem mesmo certeza de que quer ir? — Perguntou Marcos para Douglas — A gente ainda sabe muito pouco sobre esses caras.
— Tenho sim. — Respondeu Douglas — Eu conversei com os deuses proibidos na máquina da sua irmã e de noite eu sonhei com a minha mãe. Não lembro direito da nossa conversa, mas acordei seguro de que posso confiar neles.
— Então tá bem.
Um a um, Douglas se despediu de seus amigos com abraços e apertos de mão, então se dirigiu à nave carregando sua bagagem.
Porém, quando Douglas e Dazimok já estavam prestes a entrar no submarino voador, o inseto parou.
— Ana, você não está interessada em vir com a gente? — Perguntou o alien.
— Hein?! — Por que eu?!
— Você passou por um processo de transformação semelhante ao de Douglas. Além disso, acredito que alguém com a sua personalidade será necessária para nossa empreitada.
Ana parou pra pensar.
— Bom, acho que conhecer novos mundos seria bom pra pegar inspiração pra compor…
***
A nave partiu. Douglas e Ana não conseguiam deixar de se sentir impressionados com aquilo. O interior do veículo espacial era bastante simples, até rústico, mas caramba: Eles estavam no espaço!
— Caralho, olha lá a Terra! — Exclamou Ana olhando por uma janela lateral.
— É bem legal mesmo. — Concordou Douglas. — Aquilo ali é um satélite?
— Parece que sim. Pena que a gente tá com pressa, eu queria fazer uma parada e ser a primeira mulher bissexual a pisar na lua.
Douglas riu.
— Desculpe interromper a diversão de vocês, — Era Dazimok, atravessando o corredor da nave submarino até onde os humanos estavam — mas é hora de vocês conhecerem a tripulação. Por favor me sigam.
Os dois seguiram Dazimok até o centro da nave, aonde haviam mais criaturas estranhas.
Dazimok apontou um de seus quatro braços insetoides para algo que parecia ser um lagarto de oito patas e oito olhos.
— Douglas, Ana: — Disse o inseto — essa é a tesoureira da nave. Vocês já chegaram a ter contato com ela na Terra.
A lagarto andou até Douglas e Ana e estendeu a cauda como se fosse um aperto de mão. Seus oito olhos se moviam independentes uns dos outros.
— Muito prazer. — Disse o réptil — Meu nome é Plassan.
— Você é a Plassan?! — Espantou-se Ana.
— Algum problema? — Perguntou Plassan.
— Não, nenhum. — Falou Douglas — É só que a gente pensou que você seria diferente.
— Diferente como? Bípede? — Os oito olhos de Plassan estavam fixados em Douglas.
— Em um canto da sala, dois seres riam da saia justa em que os humanos se colocaram. Eles lembravam muito os supostos “aliens cinzentos” que os ufólogos viviam comentando sobre, mas flutuavam com suas pernas dentro de veículos que pareciam ser mini-caiaques mecânicos.
— Aqueles são Bib e Bob — Falou Dazimok — Nossos cozinheiro e mecânico, respectivamente.
— “Bob”? — Estranhou Douglas.
— Parece um nome da Terra, né? — Brincou Bob — Mas é só coincidência.
Restava apenas um membro da tripulação a ser apresentado. Parecia ser um gato humanoide de pelagem negra e trajava uma armadura com capa branca. Ao seu lado estava um martelo de combate que parecia ser pesado demais pra alguém daquela estatura carregar.
— Este é Kadmek. — Disse Dazimok. — O nosso médico e guarda-costas. Curiosidade: A espécie dele e de Plassan tiveram origem no mesmo planeta.
Kadmek nada disse de início. Pegou seu martelo como se não pesasse nada e caminhou até Douglas, encarando-o.
— Então você é o tal Buda forasteiro… — falou o felino, sem tentar esconder o desprezo em sua voz.
— Kadmek, a gente já conversou sobre isso… — Interveio Dazimok. Então, se dirigindo a Douglas, o inseto falou: — Não ligue, é que ele não gosta do budismo. Em breve explicarei tudo.
—Você pode pelo menos explicar o que era aquele monstro gigante? — Perguntou Douglas — Se não era um Urgheol, então o que diabos era aquilo?
As antenas de Dazimok balançavam.
— Um Cthuga. — Respondeu o inseto. — Armas semiorgânicas criadas através da mescla de petróleo com magma. Assim como os Hasturs de seu mundo, os Cthuga também foram criados para emular os Urgheol.
—Então a Terra não é o único planeta com adoradores do Rei Amarelo…
—Ah, não mesmo. Inclusive, meu planeta natal é governado por alguém que venceu o Jogo Sagrado tendo favoritismo do Rei.
As unhas de Douglas se fincaram nas palmas de suas mãos.
*
Douglas
já ia se manifestar quando a nave sofreu um baque.
— O que tá acontecendo? — Perguntou o rapaz que quase perdeu o equilíbrio.
—Estamos sendo atacados. — Respondeu Plassan, olhando para diversas esferas de energia que flutuavam ao redor dela. Ter oito olhos independentes era uma grande vantagem.
—Você fala como se não fosse nada de mais! — Reclamou Ana, caindo no chão após mais um baque.
—Plassan, conjure suas ilusões. — Falou o inseto Dazimok para a réptil, também em um tom calmo.
—Plassan fechou seus oito olhos e se concentrou.
—O que aconteceu? — Quis saber Ana.
—Vem dar uma olhada. — Douglas chamou a roqueira para ver pela janela.
—Mas que porra…?!
—Plassan conjurou ilusões da nossa nave pra confundir o inimigo. — Explicou Bib.
—Além disso, ela também escondeu a nave dos sensores inimigos — Complementou Bob
—Só que isso não vai durar muito tempo. — Interveio Kadmek, com os braços cruzados — Precisamos agir.
O felino pegou seu martelo com as duas mãos, se virou para o inseto e perguntou:
—E então Dazimok, vai ser bater ou correr?
Dazimok abriu e fechou as asas.
—Vamos atacar. Precisamos nos livrar de toda força inimiga que pudermos.
—Isso não soa muito budista. — Apontou Ana.
—Ih, você ficaria em choque com o que os próprios budistas da Terra já fizeram. — Respondeu Douglas, com um tom travesso.
—Estamos vivendo tempos de guerra, garota. — Respondeu o artrópode, sereno. — Aquela nave pertence a alguém que definitivamente não busca o bem-estar dos povos.
Dazimok então se direcionou a Bob:
—Estamos em posição?
—Sim, senhor! — Respondeu o E.T., analisando uma esfera de energia similar às de Plassan.
—Muito bem, disparar laser.
Antes que o laser fosse disparado, porém, um baque muito maior atingiu a nave, jogando os tripulantes ao chão.
—Ache que a gente tava invisível! — Protestou Douglas.
—Eles conseguiram detectar nossos sinais vitais! — Explicou Bib.
—Estou achando que não vamos aguentar mais um disparo. — Comentou Kadmek de maneira casual, manuseando sua própria esfera de luz.
—Ainda estou com o alvo na mira! — Disse Bob — Laser carregado!
— Disparar! — Ordenou Dazimok.
E assim foi feito.
Sem mais baques.
—Não me deixem esquecer de rezar quando chegarmos em território imperial. — Falou o inseto líder, limpando as antenas com um par de braços e as asas com o outro.
—Nenhum Osfo na Zona Estática! — Falou Bib.
—Ótimo. Ativar hiperespaço!
Douglas e Ana não estavam preparados para aquilo e seus corpos foram arremessados contra a parede pela inércia.
Os dois ficaram caídos no chão, sem conseguir se levantar.
—Bom, parece que tem algo pra eu fazer, né? — Comentou Kadmek, combinando sarcasmo e aborrecimento.
O pequeno felino humanoide se aproximou dos dois homo sapiens e apontou seu martelo pra eles. Uma luz branca brilhou na cabeça da arma, e logo em seguida se apagou.
—Caramba! — Falou Douglas, se erguendo e movimentando os ombros. — A dor sumiu total!
—Ai, muito obrigada, coisa fofa! — Disse Ana, se agachando para abraçar Kadmek.
Um som de asas de inseto batendo tomou a nave.
—Obrigado pela atenção. — Ironizou Dazimok. — Douglas, Ana, agora vocês estão muito longe de casa. Bem-vindos ao que sobrou do Império Torun.
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